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segunda-feira, 10 de maio de 2010

As tristes crônicas do João medroso

João nasceu no sertão nordestino, era um garoto medroso. Sua mãe benzendeira devota de padre ciço. Seu pai cabra macho devoto de lampião. Tinha quatro irmãos, dois homens mais velhos, e duas meninas mais novas. Sua cabeça era cheia de dúvidas, sempre achou que tinha algo de errado consigo. Mas as dificuldades do dia a dia não deixavam tempo para João refletir. Todos os dias levantava bem cedo para cortar cana, fazia sempre o mesmo trajeto com seu pai e seus irmãos. E era sempre as mesmas historias, ouvia o pai dizer como levou a “muié” a força da casa dos pais, e como o irmão mais velho desvirginou a filha santa do dono da mercearia. Mas João tinha medo. Se sentia como se fosse de outro mundo. Aquela terra de chão rachado não era seu lugar. Não reclamava de ter que cortar cana o dia todo, sua maior preocupação era o casamento arranjado com mariazinha; moça prendada e bonita, filha de gente boa. João era um garoto de sorte diziam seus irmão, mas não era o que ele achava. Pois não gostava dela. ele gostava de Geraldo, um outro garoto da sua idade que também cortava cana com ele todos os dias. Mas era um sentimento tão confuso que fazia João chorar por não entender direito o que se passava. Toda vez que olhava pra Geraldo seu coração acelerava, adorava ver o garoto sem camisa e suado cortando cana. João morria de medo. E se seus pais soubessem? A mãe morreria com um enfarto fulminante. Igual o que matou a avó quando descobriu que fora traída a trinta anos atrás pelo já falecido marido. Ou no mínimo ela passaria o resto da vida sentada numa cadeira de balanço lamentando por ter um filho boiola. E o pai? Ah! O pai ! João tinha calafrios por todo o corpo só de pensar nisso. Não sabia o que ele faria, mas sabia que no mínimo pararia no olho da rua. Certa vez João e Geraldo voltavam para casa, era fim do dia. Os dois garotos estavam cansados, mas João estava feliz. Pois estava junto de quem realmente gostava. Ate que João, no único ato de coragem de sua vida faz uma piada sobre o facão do amigo. Que logo arreganha os olhos e entende a indireta. Puxa João pelo braço e o leva para dentro do canavial. Depois de alguns minutos João sai correndo desesperado arrumando as roupas, o garoto estava tenso. Chegou em casa e Seus pais perguntaram porque ele tinha demorado. O garoto achava que eles sabiam, ele olha pra seus pais e fica com medo. Sai de casa rápido, e sem deixar que ninguém perceba vai para trás do casebre e chora ali escondido, pois não podia ser visto chorando, afinal, homem que é homem não chora. Mas João era daqueles homens que choram. Ele se sentiu um pecador ao olhar para os olhos da mãe e o desgosto da família quando encarou o pai nos olhos. Decidiu nunca mais falar com Geraldo. O tempo passou, João casou com mariazinha, mas nunca foram felizes. Tiveram seis filhos, e toda noite quando trabalhavam para fazer mais um herdeiro da miséria João se lembrava do dia mais feliz que teve na sua vida naquele fim de tarde no canavial. João nasceu e morreu no sertão nordestino, nunca viveu. Pois era um garoto medroso, pobre menino tinha medo da vida.

Um comentário:

  1. Muito bacana a historia,e bem relatata por que isso acontece realmente...e infelizmente tem gays q falam em "virar" hetero por q assim eles serão mais bem vistos mais respeitados.Agora a pergunta qm desresipeita os gays!?...

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